sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Ano novo, vida nova. Será?


Não, não será talvez!
As promessas de ano novo são infindáveis. As palavras bonitas, os versinhos motivacionais, os desejos de uma vida diferente, a superstição ao vestir-se com as cores que supostamente darão sorte, a preparação para a tão esperada virada... Só que, sai ano e entra ano, as novidades não são notáveis.
Estamos no quinto dia do ano novo. Não fosse o calendário, não conseguiríamos nos orientar, afinal, as notícias não mudaram. Assaltos, assassinatos, balas perdidas, mortes de inocentes, mortes no trânsito, escândalos na política. Permanecem inabaláveis os “mimimis” nas redes sociais. As mesmas intrigas, a mesma disseminação da ignorância, as mesmas hashtags. Os mesmos reprodutores das inverdades midiáticas, a mesma necessidade de autoafirmação diante do mundo e a de ter sempre razão. A vida online em detrimento da vida offline, as mesmas agressões verbais, a mesma falta de humanidade, a mesma ansiedade pela chegada da sexta-feira. Quiçá as mesmas dores, as mesmas decepções, as mesmas lágrimas. O mesmo egoísmo, a mesma intolerância, o mesmo preconceito.
Bem... Longe de mim ser pessimista ou tecer um texto de autoajuda. Prefiro acreditar que sou realista, pois mudar do ano ímpar pro ano par – amo anos pares! – não vai fazer com que a vida mude da água pro vinho. É como querer ser bem-sucedido na vida sem trabalhar, sentado no sofá o dia todo, se empanturrando de carboidratos e assistindo Netflix. Como é que se quer ter uma vida diferente se o ser humano se recusa a evoluir como ser humano? Como é que se celebra uma vida nova se as atitudes são velhas?
Gente, para!
Olha só um exemplo simples: ontem pela manhã (04/01/18), assistindo a um telejornal matinal, vi que uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) constatou, nos benefícios do programa social Bolsa Família, uma fraude em aproximadamente 350 mil cadastros. De acordo com o relatório da citada Controladoria, o governo pagou indevidamente cerca de R$ 1,4 bilhão a pessoas que não tinham direito ao benefício. Quase nada, né? Ei, Brasilzão velho!
Aí eu me perguntei: investigação veio à tona de novo agora por quê, hein? Sempre houve suspeita de fraude nesses programas, mas este ano é ano de eleição. Os justiceiros querem mostrar serviço. Sério que querem que eu acredite que eles também são enganados, que não sabem desses cadastros indevidos e que muita dessa “brava gente brasileira” recebe o benefício injustamente? É tanta palhaçada que sinto vergonha alheia.
A renda per capita precisa ser de 170 reais pra se ter direito a esse tal benefício, no entanto, há famílias que recebem quase 2 mil reais por pessoa, e são cadastradas no programa. Famílias estas, algumas de funcionários públicos (muitos brasilienses, certeza), com casas próprias, com carros de luxo. Triste, não? Aí eu me questiono de novo? Pra que tirar o direito de quem realmente precisa? Pra que enganar a pátria tão amada? Não veem que o país já está na lama? Obviamente muitas dessas famílias são as que gritam nas ruas “fora, fulano”, “fora, ciclano”, as mesmas que põem textões moralistas sobre política na rede social. Ah, me poupem de tanta hipocrisia!
Que chefes de famílias são estes? Que tipo de brasileiro é este? Que exemplos são para os filhos? Claro... É a famosa história: todo mundo faz, eu também vou fazer; meu vizinho não precisa e tem direito, eu também quero ter.
Que raio de “todo mundo” é esse? Eu não faço parte desse “todo mundo”, graças a Deus! Deve ser por isso que me sinto cada vez mais deslocada nesse país. Sei que você que está lendo aí já deve ter se sentido assim em algum momento da vida.
Qual vida nova se almeja, gente? Vai chegar 2080 – se Deus quiser estarei descansando na vida eterna – e as promessas estarão sendo renovadas em vão ano a ano, caso a mudança não comece por cada um.
Bom... este não era o texto ideal para o início de um novo ano, mas tive a necessidade de externar minha aflição ao assistir, ler e ouvir, de novo, como em toda virada, a mesma frase dita da boca pra fora: “ano novo, vida nova”.
Enquanto não se tomar consciência de que são as atitudes que transformarão a vida, a promessa nunca será real. O que faz o novo não é o que vem de fora, é o que está no coração, o que sai do coração. Cada pessoa precisa reencontrar, a cada ano, sua própria humanidade. Despir-se daquilo que julga correto só pra si e enxergar um pouco além dos olhos. Lançar um olhar de amor ao próximo e agradecer sempre. É bíblico isso.


O ano é novo, sim. O tempo não para. Mas a vida nova, meus amigos... Ah, só depende de nós! Depende de uma postura nova, de um jeito novo de olhar, de um propósito novo, de atitudes novas e, claro, de uma fé mais amadurecida – não de simpatias. O ano novo vai ser melhor se puder contar com uma versão melhor de nós.
Eu vou continuar aqui tentando cultivar em mim a esperança, pois tenho fé de que ainda verei um mundo novo e vários anos com vidas renovadas de fato.

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